Hermes Aquino
Pobre Aquino ficou preso em sua própria maldição. Ao cantar com tamanha maestria esse símbolo do existencialismo em forma de música que é sua maior canção: Nuvem Passageira, o cantor selou sua carreira. Seria impossível fazer melhor do que havia feito. Não que não tenha alcançado algum sucesso com outras canções. Mas é que quando se pensa em Hermes Aquino, se pensa em 1976 e a grande nuvem passageira. Sua letra poética, equilibrando-se entre o fatalismo existencialista e a tranquilidade nova era deixam um contraste único na canção, sem dúvidas, inspiradíssima:
Eu sou nuvem passageira
Que com o vento se vai
Eu sou como um cristal bonito
Que se quebra quando cai
Não adianta escrever meu nome numa pedra
Pois esta pedra em pó vai se transformar
Você não vê que a vida corre contra o tempo
Sou um castelo de areia na beira do mar
A lua cheia convida para um longo beijo
Mas o relógio te cobra o dia de amanhã
Estou sozinho, perdido e louco, no meu leito
E a namorada analisada por sobre o divã
Por isso agora o que eu quero é dançar na chuva
Não quero nem saber de me fazer ou me matar
Eu vou deixar em dia a vida e a minha energia
Sou um castelo de areia na beira do mar.
Eu sou nuvem passageira
Que com o vento se vai
Eu sou como um cristal bonito
Que se quebra quando cai
O interessante é pesquisar a respeito de sua vida e saber que diferente do teor de tragicidade romântica presente em sua música, Aquino está de boa, sem fama exacerbada, morando em sua terra natal, Porto Alegre (aliás, um dos poucos que trouxe tendências tropicalistas para o sul), e que hoje em dia até compõe, mas seu foco são jingles da cidade e colunas para o jornal local. Uma vida sossegada certamente. Mas de certa forma isso é certamente o melhor que poderia ter acontecido. O auge é sempre mais poderoso do que seu esfriamento de pouca criatividade. É possível pensar na nuvem passageira como um breve lampejo de criatividade acima do limite visto na musica, onde um homem consegue assimilar e acomodar numa poderosa musica pop um vasto nível de informação filosófica primorosa, mas que, tão fugaz quanto a sensação que ela causa, se desfaz no tempo e na resistência do mesmo. Afinal de contas: -Não adianta escrever meu nome numa pedra, pois essa pedra em pó vai se transformar, você não vê que a vida segue contra o tempo? Sou um castelo de areia na beira do mar...
Um salve para esses momentos poderosos de consciência que rasgam o tempo espaço através das artes.