#DICIONÁRIO DA MÚSICA BRASILEIRA# Belchior

Dos detalhes da história de Antônio Carlos Belchior eu sei pouco, há não ser do famoso sumiço do mesmo em alguns períodos entre 2009 e 2012, fato que virou notícia na mídia. Mas o que sei é que Belchior é dono de algumas das composições mais poderosas da MPB. Advindo de uma cena musical cearense, acabou trazendo em suas letras o confronto com a cidade, com a vida, com o caos, com o amor, as paixões, dores e ilusões. São muitos os clássicos deixados por esse grande músico. Essa modesta postagem visa trazer alguns fragmentos das letras que considero mais poderosas.

Mote e Glosa, seu primeiro LP tem aquela crueza lo-fi que só é devidamente degustada quando já se conhece o cantor em níveis superiores de qualidade de gravação, mas nada se compara aos arranjos viscerais de algumas das canções como a "Todo sujo de batom" ou o lamento agonizante e romântico (no sentido original do termo) de passeio:

"Meu amor, meu amor, meu amor:
a eletricidade desta cidade
me dá vontade de gritar
que apaixonado eu sou.

Nesse cimento, meu pensamento e meu sentimento
só têm o momento de fugir no disco voador.
Meu amor, meu amor, meu amor!"

Mais melancólica ainda, a canção Na hora do almoço consegue causar vertigem com seu lamento:

"No centro da sala, diante da mesa
No fundo do prato, comida e tristeza
A gente se olha, se toca e se cala
E se desentende no instante em que fala

Medo, medo, medo, medo, medo, medo"

Mas nem só de melancolia vive Belchior, ou talvez viva... Mas o que é certo é que uma de suas composições mais poderosas e emblemáticas é sem dúvidas Como nossos pais, depois fantasticamente interpretada por Elis Regina. Mas vamos nos ater a mergulhar na versão original e toda sua potência lírica. Belchior, com seu bigode Nietzschiano e sua lamúria profunda marcaram a música brasileira para sempre.

Não quero lhe falar
Meu grande amor
Das coisas que aprendi
Nos discos
Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo

Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor
É uma coisa boa
Mas também sei
Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa

Por isso cuidado, meu bem
Há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal
Está fechado pra nós
Que somos jovens

Para abraçar meu irmão
E beijar minha menina na rua
É que se fez o meu lábio
O meu braço e a minha voz

Você me pergunta
Pela minha paixão
Digo que estou encantado
Como uma nova invenção
Vou ficar nesta cidade
Não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento
O cheiro da nova estação
E eu sinto tudo na ferida viva
Do meu coração

Já faz tempo
E eu vi você na rua
Cabelo ao vento
Gente jovem reunida
Na parede da memória
Esta lembrança
É o quadro que dói mais

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo, tudo
Tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais

Nossos ídolos
Ainda são os mesmos
E as aparências, as aparências
Não enganam, não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém

Você pode até dizer
Que eu estou por fora
Ou então
Que eu estou enganando

Mas é você
Que ama o passado
E que não vê
É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem

E hoje eu sei, eu sei
Que quem me deu a ideia
De uma nova consciência
E juventude
Está em casa
Guardado por Deus
Contando o seus metais

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo, tudo
Tudo o que fizemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Como os nossos pais

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