#DICIONÁRIO DA MÚSICA BRASILEIRA# Carne Doce

Carne Doce

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Um saudosismo inerente ao homem costuma dizer que a música de qualidade está morta e que só se encontra conteúdo verdadeiro até no máximo o começo dos anos 90, depois disso fomos caindo num vórtice sem misericórdia de lixo cultural devastador, o que naturalmente não é verdade. Tudo depende de quão longe seus ouvidos chegam e quão apurados eles são para descobrir algo na música que saia do considerado "convencional". Existem exemplos ano por ano, todos os anos desde que a música é música. É lógico que existem mais bandas ruins do que boas, mas isso não desmerece cenas poderosas que vem e vão em ondas rítmicas capazes de chacoalhar as estruturas culturais e sociais. Atualmente estamos passando pela mesma situação, onde a já velha guarda do rock nacional dos anos 2000 (que foi sim, mais ameno e mais pop, como Detonautas, Cachorro Grande, etc) consideram que o rock nacional está definitivamente morto, o que mostra sua total perda de noção a respeito do cenário alternativo fora das grandes mídias. Existe uma cena pulsante e brutalmente criativa rolando no Brasil afora. E como exemplo dessa diversidade, trago para vocês hoje o Carne Doce. Que na primeira audição podem até achar que não seja rock, o que é ótimo, afinal rock é um termo quase pejorativo para não dizer infantil. Mas melhor então chamarmos de música! A cena de Goiás inclusive tem ficado intensa desde a acensão do Boogarins. O Carne Doce hoje já está com um segundo álbum lançado, mas eu quero mesmo é falar do primeiro, que para mim é um rasgador de paradigmas a respeito da música regionalista (de uma região inclusive pouquíssimo valorizada ou visualizada em termos de música), e desse primeiro álbum, quero falar principalmente da música Amigo dos bichos!

Amigo dos bichos é uma obra de arte. Acho que poucas vezes na vida uma música teve um efeito tão intenso em mim. Existe um equilíbrio tão poderoso entre a melodia vocal da Salma Jô (que é no mínimo uma das maiores vozes vivas do cenário musical) capaz de causar alguma emoção não compreendida entre a nostalgia de uma tarde de terça da sua infância quando ainda não estudava e passava as horas brincando na cozinha com chão de tábuas largas e “estorvando” sua mãe e um aconchego de reviver qualquer situação semelhante simplesmente pela energia presente na música, que transpõe barreiras geográficas (naturalmente traz uma realidade de Goiânia de onde a banda é natural, mas que consegue tocar as memórias de infância de alguém do interior do Paraná, no caso eu). Amigo dos bichos é acima de tudo poesia, poesia musical. Carne Doce estreou com um álbum homônimo simplesmente destruidor, repleto de músicas fantásticas, maravilhosas, únicas.
Sertão Urbano tem potencial para mover multidões, com seu discurso de anarquismo naturalista intercalado com um arranjo melódico fortemente impregnado de inspiração shoegaze e talvez de algumas variantes do indie rock antes deste se tornar um objeto de consumo adolescente, explodindo em sua parte final com todo o potencial da experimentação vocal de Salma e de efeitos que causam arrepio na espinha. Totalmente oposta ao som encontrado na Amigo dos bichos! O que é ótimo. O primeiro álbum da banda deixa claro todas as nuances que podem alcançar, passeiam por uma infinidade de melodias e criações beirando o psicodélico, o experimental, o pop melódico e o intimismo profundo.

Vale uma visita ao segundo album também, que apesar de certa militância quase irritante a favor de um marxismo cultural que hoje em dia tem virado a palavra de ordem na sociedade brasileira, tem verdades muito poderosas em algumas de suas canções!

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