Vou compartilhar um pouco do trabalho de conclusão que fiz para minha Pós-graduação em Sociologia. Fiz um paralelo entre o livro O Sujeito na Contemporaneidade de Joel Birmam e Modernidade Líquida de Zigmund Bauman. Me deleitei com a leitura dos dois livros e foi incrível analisar a correspondência entre eles, ainda que não dialogassem diretamente.
O Birman é menos conhecido, e aqui vai o vídeo do Café Filosófico com sua participação. Em resumo, ele traz a reflexão de que vivemos uma mudança muito grande na forma que os indivíduos constroem a maneira como enxergam a si e dão significado para a vida. Antes, por exemplo, tínhamos referência menos diversas e mais contundentes como a igreja, com a predominância católica.
Bauman é mais famoso com sua fala sobre a modernidade líquida, em que os valores e as relações parecem ter se liquefeito, onde nada mais, em termos de subjetividade, se sustenta a longe prazo. Lá vai um vídeo dele:
Joel Birman é filósofo e psicanalista por formação, muito embora dê grandes contribuições à sociologia. Ele sustenta sua análise na convicção de que as condições sociais determinam as formas de subjetivação. Daí a rica e iminente interface entre a sociologia e a psicologia, dado que as transformações que se revelam no campo social encontram ressonâncias em elementos psíquicos fundamentais que tecem a estruturação do sujeito.
Em seu livro O Sujeito na Contemporaneidade, Birman sustenta que houve mudanças significativas nas maneiras de subjetivação nas últimas décadas, evidenciadas pelas formas de mal-estar, inscritas no discurso e nos registros psicanalíticos. Os temas recorrentes na descrição do mal-estar antigamente eram o pensamento e a linguagem, e hoje concentram-se no corpo, na ação e na intensidade.
As novas modalidades de mal-estar gradativamente tomaram o lugar das antigas formas de sofrimento. Na modernidade - período que iria do século XIX até meados do século XX -, a subjetividade era regulada pelo conflito psíquico dado pela oposição entre as pulsões individuais e as interdições morais. Ou seja, desejos pessoais que não encontram negação no meio social (tabus, preconceitos, enfim). Completando a introdução ao pensamento de Bauman: nos tempos atuais a força destas interdições diminui, surgindo formas diferentes de regulação social, nas quais imperam a exigência da performance e da iniciativa individual. Ao invés de interdição observa-se, hoje, uma incitação à ação.
Zygmunt Bauman foi um sociólogo polonês, falecido recentemente, em 9 de janeiro de 2017. Para este autor, a modernidade imediata - maneira como refere-se aos tempos atuais em sua obra Modernidade Líquida (2001)-, é uma época na qual acontece a desestruturação do sistema regulador e orientador das ações dos indivíduos.
A mudança da estrutura social de orientação e formação das subjetividades na contemporaneidade é a grande confluência teórica entre estes dois autores, e vou escrever mais sobre isso nos próximos posts.