Eu mal sabia, mas antes mesmo do livro da biografia de Torquato Neto chegar em mãos, já o conhecia.
Tirei esta foto durante a leitura da biografia de Torquato Neto, escrito por Toninho Vaz, pela editora Nossa Cultura. Achei o livro nessas feiras populares, com livros a partir de dez contos, uma surpresa barata de valor cultural incalculável.
Mesmo sendo um dos maiores compositores brasileiros da MPB ou da MMB (músicos malditos brasileiros - termo maldito usado como homenagem, aos músicos marginalizados da cultura musical brasileira), Torquato Neto surgiu em minha vida daquela forma sutil, sendo interpretada pelos Titãs em Go Back...
"Só quero saber do que pode dar certo
Não tenho tempo a perder"
O hit embalou minha infância, lembro da música tocando na rádio, mas tarde acabei comprando o vinil - Go Back (1988) e fui ler mais sobre o álbum/música e foi então que tive meu primeiro contato com a persona Torquato.
Um poeta jornalista, ou um jornalista, nascido em Teresina em 1944, viveu em Salvador e mais tarde foi para o Rio de Janeiro. Rapaz culto, desde pequeno apaixonado por literatura e desde sempre se mostrava sua aspiração a artista.
Em Salvador, fez parte ativamente do movimento Tropicalista, sendo um dos mentores intelectuais do movimento (porém, não tão popular quanto Gil, Gal, Caetano, Oiticica, ficou meio ofuscadinho para mim por muito tempo). Lutou neste período também contra repressão militar da época.
Torquato conviveu com grandes nomes da música e cultura brasileira da época, Jards Macalé, Glauber Rocha e outros.
Durante este período, contribui ativamente na poesia nacional, compondo com o Gil o manifesto Geleia Geral e fazendo outras composições que seriam lindamente por grandes vozes, como Gal e Elis.
“eu, brasileiro, confesso
minha culpa, meu pecado
meu sonho desesperado
meu bem guardado segredo
minha aflição”
Gilberto Gil e Torquato Neto
Música, poesia e cinema, ambos sempre presente na vida de torquato. Em 1970, estrelou como o "Nosferatu no Brasil" de Ivan Cardoso. Escreveu também roteiros, suas músicas são roteiros cinematográficos.
Torquato Neto, o anjo torto. Teve uma vida curta, porém muito intensa, contribuindo para o cenário cultural brasileiro de modo atuante. Sua poesia e vida, carregavam uma intensidade e melancolia, em diversas letras, podemos sentir uma despedida.
"Torquato confessava a amigos sentir-se um trapo, um derrotado, um infeliz perpétuo. Internado, mais uma vez, no sanatório do Engenho de Dentro, Rio de Janeiro (em Teresina, várias vezes esteve no Meduna, para desintoxicar-se), escreveu: "(...) Incrível, já não preciso mais (...) liquidar meu nome, formar nova reputação como vinha fazendo sistematicamente como parte do processo autodestrutivo em que embarquei - e do qual, certamente, jamais me safarei por completo(...)."
Torquato suicidou-se aos 28 anos, de forma trágica, deixou esse mundo. Diagnosticado como esquizofrênico, transparecia sua suave melancolia em sua arte.
“Adeus
Vou pra não voltar
E onde quer que eu vá
Sei que vou sozinho
Tão sozinho amor
Nem é bom pensar
Que eu não volto mais
Desse meu caminho”
Fiquei grata ao destino, por ter encontrado o livro e ter compreendido melhor a grandeza poética de Torquato. A música, poesia... a arte brasileira sempre me surpreende por sua infinidade de artistas fortes e inspiradores.
Para finalizar, deixo a minha canção e interpretação preferida - Três da Madrugada na voz e violão de Gal Costa. Salve Torquato, salve a música brasileira e toda sua grandiosidade.