Na nossa ultima noite no Rio de Janeiro resolvemos fazer algo diferente, que não custaria nada (já que não fizemos dinheiro nenhum no sinal) e ainda renderia ótimas histórias pra se contar depois. Meus amigos cariocas adoram se enfiar no meio do mato e nos contaram que existia uma trilha pra escalar a pedra da gávea onde você acaba ela numa caverna que dá pra onde o sol nasce. Me parecia uma belíssima ideia e topamos sair as 22 para começar a trilha e já estar na caverna antes do sol nascer. Tirei toda roupa da mochila e coloquei um tapete que eu usava pra isolar o frio do chão, meu caderno de estudos gerais, um livro (o ônibus de onde estávamos até a entrada a trilha levaria mais de uma hora) uma garrafa com gasolina e meus bastões. Afinal, eu não poderia perder a chance de fazer fogo num lugar tão diferente assim.
Chegamos um pouco atrasado mas encontramos nossos amigos. A entrada do parque estava fechada mas desviamos para a lateral no meio do mato. Após um tempo encontramos a grade que delimita a area do parque e fomos seguindo ela. Duas vezes tivemos que nos esconder atras das arvores ou abaixar no meio do mato para escapar das rondas dos seguranças do parque, mas após estarmos realmente no meio do nada, encontramos um buraco na grade e passamos pra dentro do parque. Nossos amigos disseram que dali pra frente não tina mais ronda, então relaxamos e continuamos a trilha, até chegar numa cachoeira, onde fiz um pouquinho de fogo.
Seguimos mais um pouco na trilha e chegamos no pé do morro. Agora seriam mais algumas horas de subida, mas tudo tranquilo, apenas uma parte que seria necessário se agarrar pela pedra e escalar (justamente um lugar chamado de pirambeira) mas tinha uma fenda na pedra que facilitou a subida. Depois da pirambeira veio um plato grande e descemos pro uma trilha lateral as pedras, pra chegar na caverna (que alguns chamar de orelha do gigante, já que se você olhar a pedra da gávea por um certo angulo, parece mesmo a cabeça de um gigante, e a caverna fica bem na orelha)
Chegando lá armamos "acampamento", comemos umas paradas e antes do sol nascer eu aproveitei pra brincar um pouco mais com fogo... hehehe
Realmente foi um privilégio poder ver o sol nascer daquele lugar. O Rio de Janeiro é um lugar bonito demais, e ver ele assim, de cima, com o sol nascendo, foi umas das imagens mais bonitas que eu já vi na vida...
Tudo muito bonito, tudo muito belo, então é hora de voltar. Juntamos nossas coisas e recomeçamos a trilha. De dia o visual era muito mais bonito, então fomos descendo com muito mais calma. Passamos pela lateral, paramos umpouco no plato, e chegou a hora de descer a pirambeira. Nesse momento um dos amigos falou "Ah, vamos aqui pelo lado que é mais legal..." Todo mundo concordou e fomos pela lateral da pirambeira. Porem a lateral não tinha uma fenda, era só uma parede lisa de pedra que você precisava ir se escorregando controladamente e segurando em outras pedras. Eu coloquei minha mochila na frente (pra poder liberar as costas caso eu precisasse deitar pra parar de escorregar) e fui com um bastão em cada mão. Porem no meio da descida eu desequilibrei com o peso da mochila e travei no meio da pedra, sem ter onde me segurar, vendo um precipício a minha frente. Todos já tinham descido menos eu, porem eu estava paralisado de medo, sentia que cada movimento que eu fazia eu me aproximava mais do precipício, comecei a suar frio e minhas mão ficaram escorregadias. Tive que tomar uma decisão rápida: ou eu jogava a mochila fora, ou eu cairia junto com ela. Claro que joguei a mochila fora (perdendo algumas coisas nela, mas nada muito valioso) e consegui retomar meu equilíbrio e aderência a pedra, o que me possibilitou descer em segurança até onde estavam meus amigos. Depois que a adrenalina baixou eu tinha dores pelo corpo todo, então quis ir direto pra casa, juntar o que sobrou das minhas coisas e continuar a viagem. Mas como continuar a viagem pra Minas se não tinha dinheiro nenhum pro ônibus? Nessas horas que você joga pro universo e vê o que aparece. E rapidamente apareceu uma carona que nos levaria até perto do destino, de lá era só pegar mais uma carona na estrada e finalmente reencontrar a família...
Essa é uma série que envolve minhas viagens pelo Brasil. Encontrei meus diários e resolvi compartilhar eles aqui.
- Apresentação - Inicio da série
- Capitulo Anterior - Chegando no Rio de Janeiro
- Proximo Capitulo - Uberlândia e Samsara