A primeira vez que eu trabalhei com Internet não foi exatamente escrevendo. O custo de vida em São Paulo é caro e pagar aluguel e faculdade exigia que eu conseguisse uma renda extra. Foi quando um colega me contou que uma empresa do bairro estava contratando.
Quando me perguntaram se eu entendia de Internet, respondi prontamente.
– Claro!
Até descobrir que era para instalar cabos de Internet para conexão via rádio.
– Não tem problema, eu aprendo.
Sem dúvida, a minha disposição foi levada mais em conta do que o meu currículo e fui contratado.
A empresa era pequena. Bem pequena mesmo, funcionava na garagem da casa do proprietário e eu era o segundo funcionário contratado. A esposa cuidava da contabilidade e havia mais uma sócia que investia o dinheiro que o marido mandava dos Estados Unidos.
O engenheiro elétrico responsável pela empresa também recém havia voltado ao Brasil, após trabalhar em Nova Jersey. Ele contava que tinha reunião no World Trade Center no dia 11 de setembro, acabou se atrasando e por isso estava vivo.
A princípio, eu atenderia os clientes no escritório e ajudaria no suporte mas, na falta de técnicos, acabei subindo no telhado também. Internet via rádio só funciona se o receptor estiver apontado para a antena sem nenhuma interferência.
É mais ou menos como a experiência de ajustar uma antena VHF de televisão. Um sobe no telhado e o outro grita se está bom ou não. Foram dias interessantes, me diverti muito.
No suporte, a reclamação era sempre a mesma.
– Eu contratei 300 kbps, mas não estou conseguindo navegar.
– Certo, vou verificar.
Na maioria das vezes, o cliente deixava baixando algum torrent para aproveitar a conexão e, obviamente, não conseguiria navegar mesmo.
Outra vez, instalei a antena na casa de uma senhora que nunca havia usado a Internet.
– A senhora precisa usar um navegador, clique neste aqui, e digite o endereço.
– E como eu faço para saber as fofocas?
Essa era fácil, passei o endereço do UOL e da globo.com e ela ficou feliz da vida. Era a Internet se popularizando.
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