A começar pelo sua "construção", literalmente, a canção é formada em versos dodecassílabos, e sempre terminam numa palavra proparoxítona. Todos os versos da primeira parte são a base principal da música e que ao se repetirem na próxima parte, troca-se apenas a última palavra de cada frase. Um arranjo destruidor do maestro Rogério Duprat, a canção cresce conforme o desenvolviment de sua letra. A letra em si é uma peça, uma obra prima lírica, algo muito raramente encontrado no universo da música de forma geral.
Chico relata o último dia de vida de um simples trabalhor da construção civíl de uma forma arrasadora. Quem não conhece a canção pode achar que a música não tem nada demais, mas ao compreender aonde Chico nos leva com uma história tão simples, ficamos boquiaberto com sua elaboradíssima brincadeira com a lingua portuguesa. Ao invés de perder tempo tentando explicar, o melhor é ler a letra enquanto ouve a canção:
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão, atrapalhando o tráfego
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado
O álbum ainda possui outros grandes clássicos como "Deus lhe pague", "Cotidiano" e "Valsinha", todas merecem a devida atenção.
Finalizo essa humilde postagem a respeito deste poeta com um video simples porém intenso com a música analisada aqui: